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[RE]NOMEAR

  Quando uma palavra muda, anistia vira dosimetria, o chão do Direito treme, e o que era firme se desfaz. É então que vemos a luta feroz pelo poder de renomear o mundo, pois quem dita o nome, erige o regime da verdade.   Foucault revela o discurso que domina; Bourdieu, a violência suave do símbolo; Derrida, o sentido sempre em fuga. Assim, cada termo deslocado reinscreve o real em nova ordem: um simples gesto de linguagem que desfaz e refaz fronteiras no silêncio profundo do poder.   Criado em : 11/12/2025 Autor : Flavyann Di Flaff
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DESPERTO

  Vestiram-me de fraco, eu, fragilizado, aceitei. Vestiram-me de miserável, eu, necessitado, aceitei. Vestiram-me de militante, eu, ignorante, aceitei. Vestiram-me de religioso, eu, descrente, aceitei. Vestiram-me de incapaz, eu, impotente, aceitei. Por muito tempo, manipularam-me, eu, sem conhecimento, permiti. Hoje, estou refeito! Abri os olhos e a mente, de tudo ao meu redor, tomei ciência. Agora, sigo o caminho que escolhi, à distância da multidão sempre!   Criado em : 10/12/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

PAR PERFEITO

  Descobri a existência da liberdade por mero acaso, quando vi, pendurada em um alpendre, uma gaiola com a porta aberta, porém, permanecia dentro dela, um belo e cantante passarinho. De início, nada entendi, porque a liberdade estava posta, e a ave não a desfrutava. Até que, refletindo mais um pouco, entendi que só se desfruta da liberdade, quando se tem autonomia, porque, sem esta, aquela vira alienação. Então, compreendi que o passarinho, por passar tanto tempo cativo, perdeu a sua capacidade de viver de forma plena, tornando-se dependente do que lhe era oferecido facilmente, o que podou suas asas e fez cessar o vento que as sustentava. Criado em : 9/12/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

SUPREMACIA DA RAZÃO

Discussão é uma conversa que desagua em divergências extremas. Não há diálogo, porque não se deseja mudar de opinião. Só existe a presença da disputa, pira acesa da competição interpessoal, desafio de prevalência do ego, em que o vencedor leva o prêmio tão almejado de supremacia da razão.   Criado em : 8/12/2025 Autor : Flavyann Di Flaff

FAIXA POPULAR

  Houve um tempo em que a faixa de areia das praias era de domínio público, pois não existia ainda a coerção hegemônica da privatização desse ambiente natural. Naquele trecho, entre as habitações e o mar, desfilava toda a diversidade presente em uma sociedade que exalava humanidade. Naquele tempo, era a classe menos favorecida, que, em maioria, frequentava aquele território livre, enquanto a mais abastarda se enclausurava nos clubes sociais, com seus salões e piscinas, ambientes estilizados e elitizados. O mar lavava a alma do povo simples, aliviando-a do fardo da sobrevivência diária. Nesse evento de purificação, ajuntavam-se o povo citadino e o interiorano, em um momento de pura harmonia e diversão. Enquanto o segundo vinha de ônibus fretado, com almoço pronto nas panelas guardado e a alegria exposta ao sol, o primeiro, por ter mais familiaridade, parecia não ter mais encanto por aquele belo lugar. O povo interiorano, ao ficar diante do mar, parecia reverenciá-lo. Via-se is...

SOS ESPIRITUALIDADE

  Nos quartos cantos do mundo uma onipresença nos vende quinquilharias mundanas, subjetividades supérfluas que só aliviam as dores, sem curar feridas abertas.   As cidades amplificam os ruídos de uma sociedade doente. Carros e motos refletem a aceleração do pensamento, do sentimento, da vida, em m/s 2 .   Do culto ao deus customizado da ostentação, do prazer banalizado, da prosperidade sem propósito. do vazio como promessa redentora, muitos já aparentam cansaço. Porque até os fortes, por detrás da aparente fortaleza, também estão fartos de andar na escuridão.   É um esgotamento persistente que não se cura com descanso, mas apenas com a mudança de hábitos. Joguemos no lixo os presentes dos vendilhões modernos, fujamos da customização do Theos , desprezemos o vazio como cura.   Porque, em muitas casas, quando o silêncio impera, os sussurros são um pedido por transcendência. Se muitos fugiram, não foi da espiritualidade, mas do que fizeram dela. Voltemos, então,...

AUSÊNCIA DE JUSTIÇA

  Diante da violência que se repete sem repouso e dos escândalos que ferem as instituições públicas, vemos apenas a lei cumprir o seu rito pragmático e frio, como se bastasse o peso do ato do malhete para restaurar o que a dor e a corrupção já desfizeram. Mas a Justiça — essa que repara, restaura e humaniza — parece sempre tardar no horizonte da vida real, presa em sombras que ninguém vislumbra; e o que nos chega é só a norma sem vida, nunca o gesto que verdadeiramente faz justiça.   Criado em : 4/12/2025 Autor : Flavyann Di Flaff